[NOTAS SOBRE A PROPRIEDADE INTELECTUAL pt. 2] Agradecimentos do Trabalho de Conclusão de Curso: Tropicália — Bananas ao vento: a música tropicalista como retrato de uma modernidade interrompida
[nota introdutória: este texto faz parte de uma série de ensaios curtos sobre a questão da propriedade intelectual. link para os outros textos no fim]

Gostaria de agradecer, logo de cara, à pirataria. Por dois motivos muito simples: 1) não fosse iniciativas como o SciHub nós estaríamos submetidos ao mercado da ciência, no qual artigos científicos são vendidos como mercadorias vulgares; pondo um limite monetário na divulgação científica e erguendo mais uma barreira no desenvolvimento da periferia capitalista. Como diz Gilberto Gil em Marginália II (1968) “aqui o terceiro mundo pede a benção e vai dormir / aqui é o fim do mundo”. Pouco se dá conta do quanto nossa pesquisa científica aqui é oportunizada por empresas de capital estrangeiro na exploração dos nossos recursos. O pior, é que nós pagamos para submeter nosso próprio conhecimento científico ao julgamento de revistas estrangeiras, pois nosso programa de pontos da pós-graduação dá mais crédito ao estrangeiro. E ainda assim somos obrigados a pagar na moeda deles pelo acesso ao nosso conhecimento. O mínimo que podemos fazer para nos vingar, utilizando essas ferramentas de pirataria. Não é de graça se pagamos com o nosso próprio subdesenvolvimento técnico, científico, cultural e estrutural. O que nos leva ao segundo motivo pelo qual preciso agradecer à pirataria. Faz mais ou menos 3 anos desde que nosso Museu Nacional pegou fogo. Nossa pobreza material põe em risco nosso futuro, presente e passado. Quanto incêndios já não acometeram os acervos das TV ‘s e rádios do Brasil? Não há um único registro sequer do programa Divino, Maravilhoso, apresentado pelos tropicalistas na TV Record. Enquanto escrevo essas linhas, todo o acervo da antiga MTV Brasil está parado, correndo risco de deterioração. Não há o mínimo de zelo pela memória cultural do Brasil, mesmo dos anos mais recentes. Assim como não há nenhum interesse comercial nessa preservação. Diversas canções da música popular brasileira não se encontram nos serviços de streaming, muito menos nas lojas de discos. Não há um serviço de streaming sequer que disponibilize o documentário Tropicália de 2012. O acesso à boa parte da nossa cultura não esta disponível nos meios legais. Portanto, é graças ao trabalho de diversos piratas da internet que temos acesso às gravações da década de 1930, entrevistas de TV, depoimentos, documentários e outras mídias que me auxiliaram na concepção do presente trabalho
NOTAS:
Link para outros textos sobre propriedade intelectual: